sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sorriam e acenem

Não sou de muita conversa. Não sou de puxar assunto com pessoas desconhecidas. Em filas e salas de espera, eu leio. Fico desconsertada se abrir a bolsa e vi que esqueci de guardar um livro lá. Meus amigos me chamam de anti-social, mas não posso evitar: não gosto de pessoas. E os livros me protegem de possíveis discussões/conversas que possam surgir.
Hoje, na junta médica do estado, esperava minha vez de entrar, escondida atrás de A Cabana. E, mesmo vendo que eu estava passando de meio livro lido, uma mulher sentou do meu lado, perguntou se eu estava lendo A Cabana e disse que o livro era MA-RA-VI-LHO-SO... Acho que depois de ler mais de 50% do livro, eu já tinha tido tempo de formular meu rascunho de opinião sobre ele. Mas tudo bem, pensei, ela só quer interagir um pouco. Teste de paciência, aí vou eu. Sorri. Acenei algumas vezes com a cabeça. Mas ela continuou: "Você já leu Encontre Deus na cabana? É Ó-TI-MO também!"
Depois daí eu já perdi minha concentração né? Tirei os óculos, me rendi à conversa. Na maior parte do tempo fiquei só ouvindo ela falar do quanto tinha gostado, e por quê, e que outros livros tinham mudado a vida dela. Alternava acenos e sorrisos, e umas perguntas curtas de vez em quando, do tipo que psicólogo faz pra pessoa se sentir importante e segura pra falar mais. Eu já tinha fechado o livro mesmo, não custava deixar a conversa fluir.
E acabou valendo o esforço. Ela quase me fez chorar (!), e eu nem sei de onde veio essa sensibilidade toda. Não gravei direito o nome daquela mulher, mas ela falou uma ou duas frases que me descreveram como ninguém nunca fez. A proximidade que fez ela me contar coisas da vida era a mesma que me trazia uma confiança em abaixar o meu livro-escudo e conversar um pouco.
Esses episódios raros me fazem pensar que eu posso até gostar de pessoas algum dia... Mas a moral é: Se alguém, inconvenientemente, vier atrapalhar sua sagrada hora de ler, sorria e acene. Numa dessas, pode valer a pena.

7 comentários:

T. B. Costa disse...

Essa é a minha Dê... já sabe a minha teoria né?! Olhaê a senhorinha fez por merecer!! Eu até gosto de 'pessoas', mas definitivamente não em consultórios médicos... =/ Então tbm uso o meu fiel escudo/livro! hauhauahua Ótimo texto amore, como sempre.

Beijos, ama tu!

Izau Melo † disse...

É ótimo ler alguma coisa do qual sempre nos identificamos, e é o que geralmente acontece quando abro a caixinha de achismos. Eu também sou um sócio do clube dos que usam o livro como escudo, gosto de pessoas e me amarro em ouvir relatos e trocar experiencias e ponto de vista do que ando lendo, infelizmente nunca encontro ninguém que leiam os meus autores, ninguém anda lendo Harold Bloom, James Joyce, Nietzsche, Schopenhauer e nem Honoré de Balzac. Ler livros em ambientes cheio de gente, ainda mais consultórios que geralmente estão repleto de pessoas tensas e com vontade de descontrair, isso faz de nós seres anti-sociais, não fujo de pessoas, fujo de futilidades e conversas inúteis. Ninguém tem obrigação de gostar das coisas que gosto, então naturalmente posso ocupar meu tempo com uma leitura que vá me emancipar.

Ótimo texto Deyse, um relato simples, porém sobrecarregado de verdade. Te conheço acenando, mas não sorrindo.

bjs

Cristina Moura disse...

Nossa falando em a cabana, eu estou na metade do livro e já chorei lendo algumas coisas.
Adorei seu texto, sorrir e acenar como você disse pode valer muito a pena.
um beijo.

Clara Alvarenga disse...

Também ando com um livro na bolsa, pois sou como você: não gosto muito de conversar com quem não conheço.. mas em certas ocasiões me rendo a conversas também. Estou fazendo um curso a noite e no intervalo do primeiro dia me fechei atrás de um livro. No segundo dia, já estava rodeada por pessoas diferentes e divertidas. Valeu a pena me render. =)

beijosss

Lia Araújo disse...

Tb tenho essa filosofia de sorrir e acenar( aliás, adoro os pingüins de Madagáscar) ... mas, uso geralmente pra pessoas arrogantes. Eu adoro conversar com gente simples...
Fiquei pensando, sempre tenho um livro na bolsa tb pra escapar atrás dele. Mas, eu adoro puxar conversa com quem eu não conheço... Às vezes, a gente se surpreende com o que sai dessas conversas... já fiz muita amizade assim... já conheci pessoas super inteligentes... já conversei com umas malas que depois de detectadas pedia licença pra terminar o livro.
Gostei muito do post e fiquei pensando em nunca mais falar dos livros que geralmente as pessoas estão lendo e que eu puxo conversa sobre. ;P

Beijos, Deyse!
Continue conversando e sorrindo sempre! ;)

Anônimo disse...

kkkkkk Eu consigo ver suas expressões em cada momento dos fatos que vc descreveu. E é sério, eu vejo mesmo.

O texto tá muito bom, e surpreendente, a mulher fez vc se emocionar, legal.

Eu sou quase assim tbm, mas não usaria livros(não uso) para bloquear pessoas, prefiro fones de ouvido, eu me distraio muito fácil, ia parar de lêr no primeiro "oi/boa tarde/tem alguém sentado aqui?". E outra, eu seria uma das pessoas que puxaria assunto kkkkk mesmo querendo ficar calado.

ps.:mto bom o texto (acho q já disse isso.
ps2.: eu ri muito quando vi sua cara. rssrs

Fabiano Passos disse...

sorrir e acenar...depende muito do meu humor ashausauaua