sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Botão de desligar







Hoje não tive vontade de te ver, nem falar, nem ligar. Tive só vontade de te dizer "tu não tem coração". Assim, de graça, do nada. Vai saber por que. Poderia ser também "tu tá morto por dentro". Só que seria mentira minha, né? Exagero. Por isso eu nem me dei esse trabalho. Não é que esteja morto, só tá desligado, daquele jeito que tu desliga sempre que não quer levar a coisa adiante. É como se tu simplesmente achasse um botão aí dentro que faz parar todo aquele teu ar quentinho e aconchegante que me fazia querer tua companhia por meses inteiros. Anos até. Tu vira repelente, fica gelado. O sorriso muda, fica meio sem graça como se a gente nem se conhecesse. Fica um sorriso que não sabe meus trejeitos, nunca decorou minhas manias e não dá notícia de que eu odeio que tu me chame de Deyse. Fica tipo um monstro. Não sabe onde por as mãos quando está perto e parece querer ir embora o tempo todo.

E eu fico ali fingindo que também sou de gelo, também tenho um desses malditos botões que desligam o coração da gente. Deixo o carro ligado, dou abraço com um braço só, beijo o rosto com a bochecha. Que dissimulada. Arranjo apelidos idiotas que disfarçam a vontade te chamar do que eu costumava te chamar. De onde eu os tiro, hein? Sabe lá. Sei que eles também dão conta de esconder direitinho quando eu estou com raiva e queria te xingar. Porque, sabe, às vezes eu queria. Sorrio e aceno, te trato bem, mas eu sei bem quantos murros estou te dando na minha cabeça. Cada um com seu motivo plausível e com força equivalente. Um murro de força média por me deixar escapar aquela ruga num sorriso como se ele significasse algo. Um murro de força média a forte por vir roçar o nariz no meu pescoço como se ainda fosse teu. Um murro de extrema força por me cuspir um vocativo carinhoso no meio da conversa como se fosse algo natural ou inevitável. Ah vai! Aperta direito o "off" desse maldito botão. Deixe-se virar o monstro que eu estou acostumada quando não somos mais "nós". Vá assombrar outras casas, ou sei lá o que tu faz quando eu não estou olhando. Eu precisaria de um texto inteiro e à parte só pra te mandar fazer as coisas que eu tenho vontade de mandar. Mas só de pensar, tenho preguiça. Que já me gasto demais com memórias pra ainda ficar dando conta do que tu faz ou deixa de fazer.

Agora eu só queria desenvolver essa técnica de ligar e desligar que tu domina. Queria me fazer egoísta de novo e só pensar em mim. Até quando eu escrevo pra desafogar meu coração, tu é o destinatário, quão injusto é isso? Quero aquele egocentrismo de focar em mim, meu futuro, meus estudos, minha vida. Quero escutar O Nosso Amor e não acordar cantando ela na manhã seguinte, pensando que o único amor desse tipo que eu já tive, é o que to "deixando morrer" aqui dentro. Quero viajar e não ficar pensando que "teria sido legal conhecer essa cidade com ele" ou "aquele babaca gostaria desse tempinho frio". É, eu te xingo na minha cabeça. Mas só porque me importo. Ainda. Até o dia em que eu encontrar meu botão de desligar.

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