terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre ontem


Ontem a noite eu conheci um cara velho. Amedrontado por pequenos fracassos. Do tipo de cara que não sabe do futuro, e nem quer saber; que desiste do futuro antes de sabê-lo. Ele me disse com os olhos que os problemas são muito grandes e as soluções custavam muito tempo e esforço de suas mãos. Mãos cansadas, ocupadas. E esse cara não tinha interesse, senão o de deixar-se vencer. Deixar-se envelhecer. Ele até me olhava friamente, com olhos de condescendência, como se dissesse: "menina, você não sabe o que diz, não sabe o que sonha". Percebi que ele era o tipo que não vê tons de cinza. Vê preto ou branco, e mais nada. Ele era meio covarde, talvez. Ou nunca aprendeu a ser o tipo certo de gente grande.

Ontem a noite eu conheci um moleque corajoso. Tão sincero, que doía. Era um menino bravo o suficiente pra admitir pequenos fracassos. Ele tinha olhos manchados de decepção ou algo assim. E mesmo assim, estava ali, pronto pra dizer coisas que eu não conseguiria. Pronto pra largar o brinquedo quebrado, e ir. Com coragem pra dizer que não tinha certeza de nada. Um menino tão confuso, ao mesmo tempo, tão certo! Ele ainda não tinha crescido, mas queria ir crescer longe. Não tinha medo de liberdade.

Quando esse menino crescer, espero que ele não se torne aquele velho que se limita, se condiciona, só olha pro chão. Espero mesmo que seja um moleque que, com cara de coragem, "tropeça, levanta, e não sai da dança". Que ele seja o tipo certo de gente grande. Que ele ame.

2 comentários:

Mima disse...

Corremos esse risco. Toda a nossa vida é feita de medo e decisão. E toda decisão implica em infinitos nãos. O difícil é saber olhar pra frente e se perdoar do "sim" na hora errada, do "não" que poderia ter sido dado ou mesmo evitado. Nossas pequenas decisões definem o que seremos amanhã. É triste que o tempo passe rápido e a gente não consiga consertar todas as besteiras que fazemos. E é triste que nem sempre sejamos tão corajosos, tão destemidos, tão livres de nossa bagagem de medos, de culpas e indecisões. Ser o adulto certo é uma questão de aceitar bem o fato de não sermos certos. Ser o adulto certo é compreender que a vida é curta demais para isso e que o meio do caminho é a vida aqui. Não chegaremos a um fim satisfatório, não o devíamos esperar. A vida aqui é um rascunho - e deve ser bem rabiscado. Depois que a gente entende isso, um peso sai de nossas costas e criamos asas para a liberdade. Enfim, eternidade. Que Deus nos apanhe em nossa fragilidade no porvir que ansiamos.

Beijo.

Lia Araújo disse...

Se eu tivesse lido esse texto a um ano atrás, talvez eu citasse o Pequeno Príncipe e torceria pra que o menino não se tornasse o velho de amanhã. Foi estranho pq quando o terminei, não sei dizer o que senti...

Fui trabalhar e fiquei pensando. Lembrei algumas vezes durante o dia. E não consegui pensar em nada, a não ser dizer que por mais triste que isso possa parecer, se o céu te faz sonhar, o chão, às vezes, te salva... talvez, olhar pro chão seja uma forma desesperada de salvação... de sobreviver... mesmo que isso seja só uma sobrevida... quando todos os sonhos, as ilusões e as "borboletas" te abandonam, o chão é a única coisa que resta. E depois que o tempo passa, vc agradece as pequenas coisas, que não te causam euforia, mas te ajudam a seguir em frente. E pelo menos ( juro que não escrevi essas palavras) tem a propriedade de ser real.

Talvez, o velho fez o melhor que pode, mas talvez, o melhor dele não foi suficiente.