Veredicto
Retrovisor
Então, é isso. Traio-me em cada briga esquecida, em cada falta perdoada, em cada gesto compensado. Em cada sorriso besta que dou. Em cada detalhe que eu noto, psicótica, e deixo passar. Traio-me com suspiros, amores e frissons que eu jurei nunca mais sentir. Por ninguém. Nem mesmo por você. Tenho-me traído tantas vezes.
Mas, antes ainda, trai-me ao olhar pelo retrovisor. Cogitar prós e contras de ter de volta aquela alegria abestada, com gotas amargas de passado pra diluir. Seria o caso de ressuscitar aquele amor atropelado? Era de um perigo declarado, quase gritante. E eu lá, me traindo, pé ante pé, de volta aos braços do meu amor falido. Quer dizer, amor bandido, fingido de morto.
O coração, igualmente mercenário, a um aceno desarmou a guarda. Esqueceu suas juras de petrificação eterna. A escrita estancou por um tempo, porque a melancolia - minha fonte principal de inspiração - não suporta infidelidade. (Agora temos um acordo não-verbal de que eu a tenha in aeternum guardada em algum lugar ao alcance.)
Então, foi isso. Passado voltando a ser presente. Retrovisor virando pára-brisas. Uma confusão. E o pior: eu não me importei tanto de estar no meio desse fogo cruzado. Entre mim e meu orgulho, entre mágoas passadas e promessas futuras. E não se engane, eu não gosto de ser assim. Sem querer, sou do tipo que se odeia quando esquece de se aborrecer, que se odeia quando, pelo outro, esquece de lembrar das paranóias suas de cada dia. Mas a cada "auto-traição", também acaba se perdoando. Por você, meu amor. Por você e ninguém mais, traio-me e perdôo-me todos os dias. Daqui pra sempre.
Temos um lindo pôr-do-sol à frente.
Um comentário:
Nusss... Vitaminda D, que lindo! Mto bom, mto bom, mto bom. Se for um fato, temos algo em comum. To com saudades(de verdade)!
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